Histórias de inclusão se encontram na 45ª Feira do Livro de Santa Maria

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Descrição de imagem: foto de duas mãos sobre uma página em braille.

Seja em um filme, nas poucas linhas de um blog, jornal, revista ou mesmo ao longo das páginas de um livro, encontramos recortes narrativos da vida de alguém, de um certo episódio ou evento histórico, visando o que há de mais importante a ser dito.
No caso deste texto, por exemplo, poderíamos dizer que o encontro das histórias do pedagogo com deficiência visual total, Cristian Sehnem, 42, e da Fundação Dorina Nowill para Cegos começou na ação da Rede de Leitura Inclusiva realizada no dia 8 de maio, com o apoio do Grupo de Leitura Inclusiva RS/Centro, durante a 45ª Feira do Livro de Santa Maria. A verdade, porém, é que uma história passou a fazer parte da outra ainda em 2001, quando Sehnem começou a trabalhar na Biblioteca Central da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), cidade onde residia na época.
“Eu era responsável pelo acervo acessível, grande parte fornecido pela Fundação Dorina. Foi quando passei a conhecer e me aprofundar na leitura inclusiva”, lembra o educador. Em 2015, já atuando no Núcleo de Acessibilidade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Sehnem participou de um seminário na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), durante o qual foi integrado a Rede de Leitura da Fundação Dorina e ajudou a articular o Grupo de Leitura na região de Santa Maria. “Desde então, fazemos pelo menos dois eventos de leitura inclusiva por ano aqui e, com ações como a realizada na Feira do Livro, a ideia é mostrar que a limitação não está nas pessoas com deficiências como a visual, mas, sim, no meio social”, explica o pedagogo.Descrição de imagem: Foto de uma mesa com dois livros infantis em tinta-braile. O livro no centro da mesa tem o desenho de um menino com boné e o título, em amarelo: "O grande dia”. À direita, está o livro “Cavalinho de Balanço”, que tem fundo azul e a ilustração de duas crianças em um cavalo de madeira. Na mesa, há ainda uma máquina Braille, duas lupas e uma prancheta com uma folha em branco, em cima da qual há uma reglete e uma punção.
A ação na Feira incluiu uma série de atividades, como contação de histórias em formato acessível para crianças da Rede Municipal, uma exposição de equipamentos e materiais para acessibilidade (máquina Braille, lupa, sorobã, notebook com softwares para escrita e leitura, entre outros) e uma roda de conversa entre leitores com deficiência visual. Segundo uma das representantes da Rede de Leitura Inclusiva, Angelita Garcia, no ano anterior a ação foi realizada em um espaço paralelo ao da Feira. “Instiguei nossos parceiros em Santa Maria a investir em um passo além, para que pudéssemos falar da importância do acesso à leitura inclusiva no próprio evento e, este ano, eles conseguiram.”, diz Angelita.
Escrevendo a própria história
Não existem leitores sem escritores. Por sorte, existem pessoas como a também educadora Maria Esther Gomes de Souza, 45, que não deixa o mundo ficar sem boas histórias, incluindo a dela própria. Parceira do Grupo de Leitura na Secretaria Estadual de Educação, Maria é escritora e tem deficiência auditiva adquirida (surdez parcial).
Em 1991, ela formou-se em Magistério de 1º a 5º ano e em Educação Especial em 1997. Desde então, trabalhou sempre com essa especialização na Rede Pública e em abrigo de menores. Também foi voluntária na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) por 20 anos. Só que, ao optar por esse caminho profissional, não havia adquirido a surdez. “Sempre gostei de interagir com surdos e tenho um primo na mesma condição que, na época, me motivou a procurar a formação. Quem diria!”, declara. Maria é autora de três livros: um sobre Educação Especial, outro de poesias e crônicas e de uma novela – um quarto está em produção.
Para a escritora, ações como a da Feira representam uma oportunidade única. “Podemos trocar experiências e, acima de tudo, falar por nós mesmos, em vez de sermos representados por quem desconhece nossa realidade”, afirma Maria.