“O Braille ainda é um sistema de escrita e leitura tátil indispensável à alfabetização das crianças cegas, mas o livro digital representa um grande avanço às pessoas com deficiência visual”. É este o parecer da diretora da Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto e Região (ADEVIRP), Marlene Cintra, acerca do programa de leitura acessível DDReader, desenvolvido e apresentado pela Fundação Dorina na oficina A Leitura Inclusiva e o Livro Digital Acessível Daisy, sediada pela própria ADEVIRP no dia 19 de abril.
Cega desde o berço, Marlene nasceu em um sítio do município paulista de Pedregulho, em 1958. Quando a menina tinha nove anos de idade, os pais mudaram-se com ela e com as duas irmãs caçulas, também cegas, para a cidade de Franca, pois ouviram falar que lá as filhas poderiam aprender a ler e a escrever. Foi assim que Marlene se alfabetizou no sistema Braille e acabou se tornando educadora de crianças cegas.
Ela conta que, em 1980, enquanto lecionava e cursava psicologia em Lorena, no Vale do Paraíba, frequentava esporadicamente a Fundação Dorina, inclusive para adquirir materiais pedagógicos, e se encontrava com a sua fundadora. “Sempre admirei a dona Dorina. Na época, eu era jovem e achava ela um pouco rígida, mas depois que fundei e assumi a ADEVIRP, em 1998, percebi que foi graças àquele pulso firme e àquela determinação que a Fundação chegou aonde chegou e eventos como essa oficina são um reflexo disso”, declara Marlene.
As possibilidades da leitura digital também empolgam o professor da ADEVIRP Alexandre Mazzer, 33. Graduado em música pela Universidade de São Paulo (USP), Mazzer teve estimulada a vocação para os ritmos desde pequeno. Segundo ele, os pais adoravam música e seu passatempo era com instrumentos de brinquedo. “Quando tinha oito ou nove anos, frequentava a igreja com minha avó e gostava de ouvir o coral”, lembra o professor.
Para Mazzer, ensinar música a pessoas com deficiência visual é uma constante troca de conhecimentos. “Ensino e aprendo com eles ao mesmo tempo. Acompanhar a evolução do aluno é algo que salário algum pode pagar”, afirma o docente. Além de elogiar o material de música do projeto Coleção Regionais, o professor observou o potencial lúdico do formato Daisy para suas aulas: “Gravo trechos das músicas para os alunos estudarem, mas o Daisy permite a criação de um material bem mais interativo, já que podemos combinar texto acessível com música em um mesmo ambiente”, explica Mazzzer.
Além da oficina
A você que é uma pessoa com deficiência visual ou instituição que promove o acesso gratuito desta à leitura – escola, biblioteca, associação etc – e não pôde acompanhar uma das oficinas do projeto Leitura Digital Acessível, temos uma boa notícia! Os 12 títulos do kit destinado a mil instituições do estado de São Paulo, todos no formato Daisy, estão disponíveis no portal de livros da Fundação Dorina, o Dorinateca. Então, se você faz parte desses grupos e ainda não tem seu cadastro, crie uma conta e boa leitura!